11/04/2016

Entrevista a Tânia Dias autora de Broken - Despedaçada

Olá!
Acabei agora mesmo de fazer uma entrevista à Tânia Dias, para quem não sabe ela escreveu um livro intitulado de Broken - Despedaçada e eu já dei a minha opinião aqui no blog sobre ele. Uma vez que acho que devemos estimular a leitura de autores portugueses e inclusive divulgar o seu trabalho decidi publicar aqui a entrevista. Tinha tantas perguntas para lhe fazer, que deu isto tudo. Espero que gostem!


Olá Tânia, em primeiro lugar quero agradecer por teres aceitado fazer esta entrevista. Vamos começar?
Olá Beatriz e olá também leitores. Obrigado eu pelo convite. Claro que sim!

Bem, sei que gostas de Jogos da Fome, Divergente, Instrumentos Mortais e Maze Runner, por isso, pergunto-te se alguma vez foste tentada ou receaste incorporar, até mesmo sem querer, algum elemento destes livros? Digo isto porque é perfeitamente normal que tal já tenha acontecido.
Sou fã de bastantes livros de fantasia é verdade. É óbvio que como escritora existe sempre um receio de que alguém que leia o meu livro o compare a grandes livros como aqueles que referiste anteriormente. Esse é um grande medo meu, para ser sincera. Mas, para responder à tua pergunta, nunca fui tentada a colocar nada de outras histórias no meu livro, ou a inspirar-me nelas para escrever o meu livro; tanto pelo facto de que não me está no sangue fazê-lo – isto é porque odeio injustiças – como pelo facto de que eu tenho muita imaginação e por isso adoro criar coisas que ninguém tenha pensado. Já usei, no entanto, personagens como modelo, isto é, há certas personagens que eu gosto tanto delas, que ao construir as minhas, completamente diferentes, almejo que elas um dia sejam tão realistas e que façam os leitores sentir tanto como essas que eu gosto me fizeram sentir.

Sendo assim, já podes ficar descansada! J Até porque, quando li o teu livro achei-o bem original e não o pude comparar com qualquer YA que já tenha lido. Acredito que o processo de escrever um livro não seja de todo fácil, aposto que surgiram várias ideias que depois, por alguma razão, foram descartadas. Estou correta?
Bastantes. E bastantes foram também alteradas, porque as personagens se desenvolveram de maneira diferente daquilo que estava à espera.

Acho que todos nós ficamos curiosos. Podes nos dar algum exemplo e talvez explicar porque é que decidiste não adicionar à história?
Posso mas terá que ser com um spoiler alert, porque de momento é o único de que me lembro, pode ser?

Sim, claro que sim! Vamos queridos leitores, para quem ainda não leu o melhor é saltar para a próxima pergunta. *spoiler alert*
Então, aquele que me lembro de momento, e queria pedir mil desculpas por não me lembrar de mais nada, mas já passaram dois aninhos desde que escrevi o livro de raiz, é o grande beijo do Ian e da Alexia, que eu sei que vocês todos queriam que acontecesse. Inicialmente, ele aconteceria no momento em que o Aaron aparece, depois foi adiado para Katuak, por fim, optei pela opção que viram no livro, porque era mais fiel às personagens, a Alexia não sairia por ai a beijar qualquer um, até porque é algo proibido na religião deles. E ao mesmo tempo, devo admitir, porque deixava os leitores agarrados ao livro, desejando cada vez mais poder pegar nas cabeças deles e empurra-los um contra o outro.

Bem devo de dizer que foi uma boa decisão, aliás estava sempre a ver quando é que isso ia finalmente acontecer. Uma vez que dizes que já foi há dois anos que escreveste o livro de raiz, quando começaste a escrever esta história foi logo com a intenção de fazer dela um livro ou era simplesmente porque tinhas vontade de escrever?
Para te ser absolutamente sincera, eu comecei a história, isto é, escrevi o prólogo há 7 anos atrás numa aula de história; não fazia a mínima ideia do que é que estava a fazer, mas as palavras foram fluindo. Entretanto eu descobri o final e nunca mais lhe peguei, no final do meu 10º ano, vi a história numa folha e decidi pegar nela como distração. Não foi com o intuito de fazer dela um livro, foi mais com a vontade de terminar uma das histórias que estava na minha cabeça; só pensei em publicar quando uma amiga minha leu e disse que parecia um ‘’livro a sério’’ e que devia tentar.

De uma aula de História saiu uma grande ideia, não? Já que conseguiste publicar o teu livro e certamente alguns dos nossos leitores têm vontade de fazer o mesmo, que conselho lhes dás?
Para terem vontade de o escrever? Arranjar duas pessoas. Uma, que lhes diga que não conseguem, porque isso gera uma vontade insana de lhes provar errado. A outra, alguém que eles confiem completamente para que lhes dê apoio e conselhos.
Para quem já tem o livro escrito, que nunca deixem de persistir, porque eu recebi nãos, a grande J.K Rollwing recebeu nãos, é normal. O importante é nunca, mas mesmo nunca, desistir.

Ora aí está um bom conselho porque de facto todos nós na vida já recebemos nãos, mas há que persistir. Para além disso, há sempre alguém que diz que não conseguimos e verdade seja dita dá um certo gosto mostrar-lhes o contrário, não é verdade? Já que mencionas a J. K. Rollwing e por muita vergonha minha ainda não li nenhum dos livros do Harry Potter, se tivesses de recomendar um livro, que te tivesse marcado, a alguém, qual seria?
Revelação, ainda não li Harry Potter. Matem-me, mas acho que já passei a fase em que teria adorado esses livros. Bom, um livro que me marcou foi Twilight, porque me levou para o mundo da literatura e da escrita, e recomendo-o a toda a gente que goste de romance, mas acho que de momento recomendava a trilogia The Infernal Devices de Cassandra Clare, porque adoro o modo como ela constrói personagens.

Gostas de ler todos os géneros literários ou há algum que não gostes? Eu, por exemplo, não gosto nadinha de policiais.
Até agora não encontrei nenhum que detestasse verdadeiramente, embora também haja bastante que ainda não tenha experimentado. O exemplo que destes, por exemplo, ainda não experimentei nenhum policial que fosse policial mesmo. Eu sei que isto é uma vergonha de se dizer, principalmente vindo de uma autora, mas sempre me inclinei mais para livro fantásticos e de futuros distópicos do que propriamente para livros com lições morais. Por isso mesmo é que acho tão importante que todos os livros nos ensinem uma lição de vida e contribuam para o nosso crescimento, independentemente do género. Contudo, de tudo o que li até agora, não é propriamente o género em si que decide se eu irei ou não gostar do livro, por exemplo, costumava odiar livros de romance, depois li Me before you e agora não os acho assim tão maus; acho a escrita e o modo como as personagens são construídas mais importantes. Se tivesse, no entanto, de escolher um género de livros que de certeza não irei gostar, é livros religiosos, pois embora não tenha nada contra a fé das pessoas, não sou uma pessoa muito religiosa, inclino-me mais para as ciências.

Eu pessoalmente também me refugio muito nas distopias e ficção científica… temos de dar as duas uma hipótese a outros géneros. Até porque dizes que gostaste muito do livro Me before you e até agora mencionamos várias vezes livros e autores estrangeiros. Achas que atualmente em Portugal se valoriza os autores portugueses? Acreditas que, por exemplo, a maior parte dos adolescentes, como nós, lê livros escritos por portugueses?
Não e não. E ainda bem que tocas no assunto porque é algo que me revolta profundamente e que acho que a maioria das pessoas não tem bem a noção. Eu pelo menos só comecei a ter depois de publicar Despedaçada. Há muitos autores portugueses, mas a nossa indústria não lhes dá qualquer chance de serem bem-sucedidos. As nossas editoras preferem usar o seu orçamento a traduzir livros do que apostar em livros de autores portugueses. As nossas livrarias estão cheias – cheias – de livros de todos os tópicos, principalmente na área que eu estou mais familiarizada (fantasia, ficção cientifica…) poucos ou nenhuns são os autores que estão lá presentes e são portugueses. E porquê? Porque apenas o que é estrangeiro é que é bom.
Não falo apenas de mim, eu li um livro de um rapaz português, há alguns anos atrás chamado O escolhido de Samuel Pimenta, se não me falha a memória. É um livro espetacular e foi feito para ter uma continuação, mas não existe (pelo menos nunca a encontrei) e nunca mais vi o livro à venda depois de o ter comprado. No entanto, não faltam exemplares do mais novo sucesso americano, alemão, britânico, espanhol ou japonês à venda! Quem fala deste exemplo fala de muitos outros, até mesmo de mim, que me encontro com imensas dificuldades em pôr o meu livro em lojas com algum nome, porque os portugueses não apostam no que é nacional! É ridículo!
Essa é uma das razões que leva os jovens a refugiar-se na leitura de literatura traduzida, claro, é mais acessível, está em todo o lado! Acho mesmo que se os livros estivessem nas lojas teriam sucesso, eu falo por mim, o que me chama à atenção é a capa e o resumo da contracapa, às vezes só em casa é que reparo no nome do autor, e não me interessa se é português, chinês, austríaco ou italiano, desde que o livro seja bom.
Por isso, apelo a toda a gente, procurem pelos livros – dentro da vossa área de interesse – que são do vosso povo, insistam com as livrarias para que coloquem literatura portuguesa nas lojas, ajudem-nos, autores, a conseguir trazer material novo e nacional até vocês.

Concordo contigo, é verdade que hoje em dia não se aposta muito em autores portugueses e quando se aposta é em ‘’celebridades’’ que decidem publicar um livro sobre a sua vida e aí sim encontramos esses livros em praticamente todas as livrarias e até mesmo supermercados. De facto eu própria não leio muitos autores portugueses, porque não encontro os livros com tanta facilidade nem são tão publicitados quanto um livro traduzido como por exemplo o Rainha Vermelha que foi muito publicitado e não é português. Passamos agora ao teu livro, porque este sim é de uma portuguesa e temos de facto apostar nos nossos. Como entendemos pelo título e inclusive pela sinopse a personagem principal (Alexia) está despedaçada, she’s quite broken. Porque é que escreveste sobre uma personagem assim fragmentada e triste? Digo isto porque a maior parte dos leitores procura sempre uma personagem ou heroína forte e independente que consiga passar-lhes esse mesmo tipo de mensagem.
Bom, eu comecei porque a Alexia tinha que ser verdadeira e ninguém que perdesse a mãe (e o único familiar próximo vivo) estaria bem, juntando isso a tudo o que está acontecer na vida dela, seria ilógico; e eu detesto personagens mal construídos.
Depois, como vocês poderão reparar pelo final do livro, eu gosto de coisas chocantes, não apenas pelas coisas más, mas pelo bem que pode fazer. E quando construí a Alexia, a medida que ia escrevendo as cenas, eu encontrei a oportunidade para usar uma personagem forte e retratar um assunto que não é tratado o suficiente. A depressão. Existe cada vez mais pessoas, principalmente adolescentes, a passar por isso e é horrível. E eu acho que não é aplicado o esforço suficiente a reconhecer-lhes a força. Foi por isso que decidi começar com alguém tão fragilizado, porque apesar de toda a confusão que está a vida dela, de toda a gente que ela tem de cuidar, do estado psicológico em que a protagonista está; ela arranja uma maneira de sair por cima, isto é, é algo no fundo do ser dela que diz ‘’não, há pessoas que precisam de mim, eu preciso de ser forte, eu sou mais forte do que isso’’. Essa é a beleza da Alexia, mais do que a força que ela tem ou a heroína que ela se torna, é a jornada porque ela passa, as dificuldades, físicas e psicológicas, que não a prendem, apenas lhe ensinam que até os super-heróis precisam de um ombro para chorar de vez em quando.
No meu ver, essas pessoas, que tem um problema, mas arranjam força, os Deuses lá sabem aonde, para dar a volta à situação, são os verdadeiros heróis da realidade.

De facto hoje em dia a depressão é algo que acontece e cada vez mais. Em relação aos espaços que criaste eu gostei especialmente das descrições de Katuak e da forma como tudo funciona. Onde é que te inspiraste para tal? Por exemplo o facto de ser tudo branco e dourado e daquela certa característica do povo.
Desde que atribuí a cor aos elementos que sabia que um planeta inteiramente dedicado à Vida teria que se basear nas suas cores, logo foi fácil descodificar como pintar aquele novo ‘’universo’’. Os locais em si foi uma mistura de traços que eu gosto na minha cidade (Porto) e de locais que foram criados na minha mente.
A característica peculiar do povo de Katuak veio-me à mente porque seria extremamente inconveniente que sempre que uma ‘’nova escolhida’’ aparecesse fosse uma nova rainha a dar-lhe o treinamento. Logo à partida, ficou estabelecido na minha mente que o povo de Katuak teria de ter uma vida mais longa, depois baseei-me no nosso ditado português *mini spoiler alert* (os gatos têm 7 vidas). Foi uma ligação bastante simples.
O resto, o modo como o mundo funciona um pouco ao contrário do nosso, sendo que as mulheres fazem tudo e os homens ‘’não servem para nada’’ foi um pouco para as pessoas (nomeadamente possíveis rapazes/homens) sentissem um pouco o que aconteceu às mulheres durante muitos, muitos anos. As outras regras, digamos, peculiares, não sei bem como surgiram, surgiram apenas, como um modo de retratar outro assunto controverso; violência parental. Não tenho a certeza se respondi a tua pergunta, mas o meu processo criativo é um pouco estranho, as coisas simplesmente se ligam e eu não faço mais perguntas.

Para quem ainda não leu Broken – Despedaçada o que lhes dirias, com o que é que essas pessoas podem contar?
Queridos leitores, vocês não fazem ideia do que vai acontecer. Mesmo quando acharem que sabem, acreditem em mim, não sabem. *risos* Estou a brincar, diria principalmente que podem contar com uma história cheia de aventura, que os vai fazer rir e chorar, que os vais mudar e subtilmente mudar o modo como eles encaram certos aspetos no nosso mundo. Peço-vos que não desistam logo da Alexia, ela está bastante mal no início, mas ela é uma guerreira e de certeza que vai arranjar uma maneira de dar coça ao vilões todos.

E para quem já leu o primeiro livro. Vai haver um próximo? * mega curiosa
Vai sim. Pelo menos mais dois.

Bem, terminamos assim a nossa entrevista Tânia, espero não ter sido muito chata com as perguntas. Tenho de admitir que gostei muito de falar contigo e conhecer-te melhor, até porque vi que temos algumas coisas em comum.
Obrigado Beatriz! Não foste chata, devo dizer que gostei bastante das perguntas e espero ter sido esclarecedora nas minhas respostas. Foi um prazer falar contigo e vou ficar à espera de saber o que achas do segundo livro!


3 comentários:

  1. muito bem! gostei muito da entrevista, parabens pela oportunidade bem aproveitada ;) beijinho!
    the-not-so-girlygirl.blogspot.com

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  2. Gostei de conhecer...

    Isabel Sá
    http://brilhos-da-moda.blogspot.pt

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  3. Amei a entrevista.
    Recentemente devorei Broken e estou mega ansiosa para a continuação também!!!
    Fico triste em saber que vocês aí enfrentam o mesmo com seus livros nacionais. Aqui é raríssimo ver pessoas preferindo ler algo nacional do que estrangeiro. Já eu, estou sempre aberta a sugestões.
    Lindo blog!


    Minha Fuga da Realidade

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